segunda-feira, 30 de junho de 2008

























Luce polare - René Magritte


Anatomia dos ecos


Gritamos do cimo de nós-montanhas as palavras alegres estou aqui

e dos vales miniaturais ressoam como tambores as palavras só agora.

Fazemos tanger os gonzos de bronze intemporal nos templos do silêncio,

mas a ilusão de retorno não clarifica o sentimento recíproco do afecto.

Há vozes que se desdobram em línguas de fogo e queimam a garganta

quando se soltam entre quatro paredes: e morrem de claustrofobia.

É por isso que ainda penso que somos hirsutos homens das cavernas.

Ouvimos sons subterrâneos que vagueiam pelas brechas da pedra

e dizemos convictamente que são os deuses murmurando entre si.

Conjecturamos o magnificente destino que eles nos querem atribuir,

quando na verdade deveríamos dedicar-nos a pinturas de caça.

Somos ocos por dentro, somos feitos de ecos, ecos, ecos…


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