sexta-feira, 6 de junho de 2008























Sonet - Jacek Yerka

Tráfico de azuis nocturnos


O azul nocturno é a minha cor predilecta. É também

a que se vende mais nas esquinas das cidades.

Assim que a noite cai usurpo esse azul

aos amantes ocultos nos prados de luzerna.

Com essa cor apodero-me, umas vezes, do canto dos ralos

e do cintilar dos pirilampos; outras, do piar dos mochos

e de todas as estrelas preguiçosas do firmamento.

É uma cor efémera com o preço dos diamantes

incrustados na cauda rebelde dos cometas

e à qual só os vagabundos dão valor.

(E os poetas…)


Neste instante, sinto o peso da lua nas costas.

Furtei à noite mais um azul nocturno, mas

este não o venderei: este é para te oferecer

no princípio da manhã.


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