sexta-feira, 6 de junho de 2008











Multidão - Miguel Fazenda


Dissolução dos sentidos


Já sinto a transumância dos animais caprinos pela montanha que sou.

Daqui, do cume de mim, o olhar perde-se-me nas auroras boreais do norte.

O que ouço são ecos dos trovões das madrugadas avassaladoras

e acredita que já não distingo o paladar salgado dos tigres de jade.

Assusta-me asfixiar com o enxofre queimado dos revólveres súbitos

e repara como me tremem as mãos e deixo cair os frutos mais sensíveis…


Juro que parti em viagem por todas as estradas possíveis e imaginárias

e nenhuma delas me levou à cidade onde mora o teu corpo.

Desconfio que já não há rosas-do-vento que me orientem:

É urgente inventar uma outra geografia.


Porque quando chega a estação quente das danças

todas as nuvens se transformam em linhas de chuva

e inevitavelmente me dissolvem os sentidos.


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