segunda-feira, 21 de abril de 2008
















Centopeia

Respeito o exagero do teu corpo de palavra em movimento.

Na forma, és quase uma palavra interminável e indizível,

e cortas-me a respiração mesmo se te leio em pensamento.

Sei que habitas o passado, a sepultura dos baús, os sótãos

onde a nostalgia se desfaz em pó com o mínimo suspiro.

Apesar de me causares calafrios, invejo-te pela hipérbole do corpo.

Porque cem pés não me chegam para percorrer os vãos das bibliotecas.

Cem mãos não me bastam para folhear os velhos livros amarelecidos.

Cem olhos não me saciam a sede dos bebedores de palavras.

Seria a minha vida mais tranquila sem centopeias?