terça-feira, 21 de outubro de 2008













Self portrait – Madeline von Foerster


Xácara das sete bruxas


Há no bosque da minha aldeia

sete bruxas, dizem, muito belas.

Ainda um dia destes me perco

e entrego-me a uma delas.


Das sete, seis avoam de noite:

passam pelos peitoris ensebados,

de vassouras mágicas em punho,

roçando neles as nádegas dos rabos.


Das sete, cinco bailam ao luar,

juntam-se nos ermos terreiros

e, tocando adufes sempre à roda,

atraem os mancebos solteiros.


Das sete, quatro despem-se todas

e banham-se na frescura das fontes.

São tão esbeltas e tão fogosas

que enlouquecem os viajantes.


Das sete, três são ruins feiticeiras:

secam sapos e mandrágoras no telhado,

falam com os negros corvos ao ombro

e lançam pragas de mau-olhado.


Das sete, duas são boas alquimistas,

defumam as vestes de artemísia e saflor,

conhecem os antigos segredos das ervas

e preparam infalíveis filtros de amor.


Das sete, uma tem olhos verdes

e há quem lhe denomine Cloé.

Usa tiaras de jasmim no cabelo,

chamam-lhe bruxa e não sabe que o é.


Há no bosque da minha aldeia

sete bruxas, dizem, muito belas.

Ainda um dia destes me perco

e entrego-me a uma delas.


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