sábado, 18 de outubro de 2008
















Le Thérapeuthe - René Magritte


Pai, árvore e pássaro


Acertei o relógio de silêncio com a queda das folhas de outono.

Depois esperei pelo inverno, deixei-o passar sem um único suspiro.

O meu pai, que era um homem silencioso, partira sem dizer adeus.

O meu pai tinha a linguagem das árvores, ele e as árvores

usavam a mesma língua.

Ainda o ouço dizer: nós, seres humanos, somos uma mistura

de árvore e de pássaro:

precisamos de raízes, mas também de asas para irmos mais longe.

Porém nunca te esqueças que é na árvore que o pássaro constrói o ninho.


O meu pai albergava todos os pássaros sem proferir uma palavra.

O meu pai utilizava qualquer árvore em troco de um chilreio matinal.

O meu pai era uma árvore, era um pássaro, partiu sem dizer adeus.

Deixou-me o seu relógio de silêncio.


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