domingo, 21 de junho de 2009



























Emergence – Mikel Glass



Gotas de tempo puro


Muitas pessoas não sabem

que hoje é o dia mais longo do ano.

Que fazer das mãos num dia assim?

A mim apetece-me

perder-me na manhã em busca das pervincas

e perceber por que eram essas plantas

tão amadas por poetas e feiticeiros.

A mim apetece-me

trepar os envelhecidos limoeiros,

colher limões de oiro como quem beija

e extinguir a secura da tua ausência.

A mim apetece-me

coleccionar conchas na espuma das ondas,

fazer-me peixe profundo dos oceanos

e saber por que há mais mar do que terra.

A mim apetece-me

estender-me na sombra dos salgueiros,

saborear vermelhas melancias sedutoras

e ao acaso abrir um livro de aventuras.

A mim apetece-me

esperar os cucos nos castanheiros

enquanto o crepúsculo afaga a noite

e entender por que lhes chamam ladrões de ninhos.


Que fazer das mãos num dia assim?

A mim apetece-me

espremer esse dia mais maduro

em gotas de tempo puro.

.

1 comentário:

Maresia disse...

Quem sabe onde mora a poesia? Escondida e tão ao alcance de todos...
Mora aqui. Adorei. Obrigada por ter vindo ao meu eencontro e assim permitir que eu também tenha chegado aqui.