
Emergence – Mikel Glass
Gotas de tempo puro
Muitas pessoas não sabem
que hoje é
Que fazer das mãos num dia assim?
A mim apetece-me
perder-me na manhã em busca das pervincas
e perceber por que eram essas plantas
tão amadas por poetas e feiticeiros.
A mim apetece-me
trepar os envelhecidos limoeiros,
colher limões de oiro como quem beija
e extinguir a secura da tua ausência.
A mim apetece-me
coleccionar conchas na espuma das ondas,
fazer-me peixe profundo dos oceanos
e saber por que há mais mar do que terra.
A mim apetece-me
estender-me na sombra dos salgueiros,
saborear vermelhas melancias sedutoras
e ao acaso abrir um livro de aventuras.
A mim apetece-me
esperar os cucos nos castanheiros
enquanto o crepúsculo afaga a noite
e entender por que lhes chamam ladrões de ninhos.
Que fazer das mãos num dia assim?
A mim apetece-me
espremer esse dia mais maduro
em gotas de tempo puro.
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1 comentário:
Quem sabe onde mora a poesia? Escondida e tão ao alcance de todos...
Mora aqui. Adorei. Obrigada por ter vindo ao meu eencontro e assim permitir que eu também tenha chegado aqui.
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