quinta-feira, 6 de novembro de 2008






















Old woman frying eggs – Diego Velázquez


Avó, velha andorinha


Por dentro da casa da minha avó voavam andorinhas.

Toda ela, a casa, era um imenso céu vertical

em silenciosas paredes brancas de cal.

Toda ela, a casa, era uma seara com papoilas

porque o ar que se respirava tinha o cheiro dos cereais

acabados de debulhar nas eiras de pedra antiga.

Toda ela, a casa, era um pomar de maçãs, de peros de agosto

amadurecidos sob a cama de linho da minha avó.


Por dentro da casa da minha avó voavam andorinhas.

Rasavam velozes o soalho esfregado com sabão amarelo,

bebiam sôfregas a água do poço nos cântaros da cantareira.

O pão quente e o café de Angola eram feitos pela minha avó.

Pois era, a minha avó tinha já a sabedoria dos pássaros ancestrais,

apesar do seu corpo mirrado albergar todo o peso da sabedoria.

Leves eram as andorinhas de barro que no céu das paredes

voavam paradas.


Sem comentários: