sábado, 21 de fevereiro de 2009
























Fragmentina - Di Vogo

Poema de vento inconstante

Existem ventos que trazem palavras e outros não.
Existem ventos tão carregados de vozes confusas
que soprando nos ensurdecem a memória do corpo.
É nesses casos que os moinhos solitários ficam loucos
e dilaceram as velas em orgasmos violentamente brancos.

Existem outros ventos tão silenciosos quanto auras
e que nos fazem parecer desabitadas grutas por dentro:
ouvimo-nos pingar das estalactites em gotas de sílica
num ritmo de tempo sideral, meticuloso e torturante,
e até sentimos o crescimento das estalagmites milenares.

Eventualmente, existem ainda outros ventos que rasgam
as folhas de papel escritas pela tortura da insonolência
e que só abrandam quando adormecemos crianças
sobre a voracidade da máquina de escrever.
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