sexta-feira, 26 de dezembro de 2008


























A secret place – Heather Nevay


Clepsidra


Tenho a minha porção exacta de água serena

para falar aqui do que fomos, do que somos

e do que naturalmente seremos. Como sabes, nascemos

no mesmo dia, na mesma hora, no mesmo instante

em que a lua cheia tingia de prata as asas das gaivotas

e o mar bebia toda a transparência dos rios impolutos.

Agora, neste silêncio tão líquido de cumplicidades,

deixamos cair das mãos frases bonitas no cimo das pontes

que alguém apanha depois nas margens movediças da incerteza.

Para quem ignora, somos um e dois e muitos simultaneamente.

Se vês um caminhante na companhia de um lobo, sabes que sou eu.

Por mim, sei que te encontro no limiar do horizonte.

É lá que tu… voas…


Olha, esgotou-se-me o tempo,

esgotou-se a água da minha clepsidra.

Agora é a tua vez: fala. Ou ri. Por exemplo:

amanhã, se te perguntarem por nós, diz

que nos perdemos num bosque de palavras

e que uma velha musa nos fez de Hansel e Gretel

aprisionando-nos numa intranquila casa em forma de poema.


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