Sonet - Jacek Yerka
Tráfico de azuis nocturnos
O azul nocturno é a minha cor predilecta. É também
a que se vende mais nas esquinas das cidades.
Assim que a noite cai usurpo esse azul
aos amantes ocultos nos prados de luzerna.
Com essa cor apodero-me, umas vezes, do canto dos ralos
e do cintilar dos pirilampos; outras, do piar dos mochos
e de todas as estrelas preguiçosas do firmamento.
É uma cor efémera com o preço dos diamantes
incrustados na cauda rebelde dos cometas
e à qual só os vagabundos dão valor.
(E os poetas…)
Neste instante, sinto o peso da lua nas costas.
Furtei à noite mais um azul nocturno, mas
este não o venderei: este é para te oferecer
no princípio da manhã.
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