Luce polare - René Magritte
Anatomia dos ecos
Gritamos do cimo de nós-montanhas as palavras alegres estou aqui
e dos vales miniaturais ressoam como tambores as palavras só agora.
Fazemos tanger os gonzos de bronze intemporal nos templos do silêncio,
mas a ilusão de retorno não clarifica o sentimento recíproco do afecto.
Há vozes que se desdobram em línguas de fogo e queimam a garganta
quando se soltam entre quatro paredes: e morrem de claustrofobia.
É por isso que ainda penso que somos hirsutos homens das cavernas.
Ouvimos sons subterrâneos que vagueiam pelas brechas da pedra
e dizemos convictamente que são os deuses murmurando entre si.
Conjecturamos o magnificente destino que eles nos querem atribuir,
quando na verdade deveríamos dedicar-nos a pinturas de caça.
Somos ocos por dentro, somos feitos de ecos, ecos, ecos…