Insomnia – Remedios Varo
Insónia
Que barulho faz uma mão vazia pela noite dentro?
Que som produz o poema arrancado a ferros?
Num insossego rasgo a noite de papel em claro,
corro atrás das centopeias e sonho pisá-las com um único pé,
mas a mão continua vazia, e hesita.
As palavras escapam-se como peixinhos-de-prata
e roem o poema nos interstícios mais subtis.
Escrevo insónia, e nada...
Mudo de caneta, entorno a tinta permanente na mesa
permanentemente branca, irremediavelmente azul.
Olho para o espelho e não me vejo.
Vejo a mão vazia avançando pela noite dentro.
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