Le Thérapeuthe - René Magritte
Pai, árvore e pássaro
Acertei o relógio de silêncio com a queda das folhas de outono.
Depois esperei pelo inverno, deixei-o passar sem um único suspiro.
O meu pai, que era um homem silencioso, partira sem dizer adeus.
O meu pai tinha a linguagem das árvores, ele e as árvores
usavam a mesma língua.
Ainda o ouço dizer: nós, seres humanos, somos uma mistura
de árvore e de pássaro:
precisamos de raízes, mas também de asas para irmos mais longe.
Porém nunca te esqueças que é na árvore que o pássaro constrói o ninho.
O meu pai albergava todos os pássaros sem proferir uma palavra.
O meu pai utilizava qualquer árvore em troco de um chilreio matinal.
O meu pai era uma árvore, era um pássaro, partiu sem dizer adeus.
Deixou-me o seu relógio de silêncio.
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