Old woman frying eggs – Diego Velázquez
Avó, velha andorinha
Por dentro da casa da minha avó voavam andorinhas.
Toda ela, a casa, era um imenso céu vertical
em silenciosas paredes brancas de cal.
Toda ela, a casa, era uma seara com papoilas
porque o ar que se respirava tinha o cheiro dos cereais
acabados de debulhar nas eiras de pedra antiga.
Toda ela, a casa, era um pomar de maçãs, de peros de agosto
amadurecidos sob a cama de linho da minha avó.
Por dentro da casa da minha avó voavam andorinhas.
Rasavam velozes o soalho esfregado com sabão amarelo,
bebiam sôfregas a água do poço nos cântaros da cantareira.
O pão quente e o café de Angola eram feitos pela minha avó.
Pois era, a minha avó tinha já a sabedoria dos pássaros ancestrais,
apesar do seu corpo mirrado albergar todo o peso da sabedoria.
Leves eram as andorinhas de barro que no céu das paredes
voavam paradas.
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