sábado, 21 de fevereiro de 2009
























Fragmentina - Di Vogo

Poema de vento inconstante

Existem ventos que trazem palavras e outros não.
Existem ventos tão carregados de vozes confusas
que soprando nos ensurdecem a memória do corpo.
É nesses casos que os moinhos solitários ficam loucos
e dilaceram as velas em orgasmos violentamente brancos.

Existem outros ventos tão silenciosos quanto auras
e que nos fazem parecer desabitadas grutas por dentro:
ouvimo-nos pingar das estalactites em gotas de sílica
num ritmo de tempo sideral, meticuloso e torturante,
e até sentimos o crescimento das estalagmites milenares.

Eventualmente, existem ainda outros ventos que rasgam
as folhas de papel escritas pela tortura da insonolência
e que só abrandam quando adormecemos crianças
sobre a voracidade da máquina de escrever.
.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009





















Lectio - Dino Valls

Apologia do riso


O riso, o riso, o riso…
Ilumino o rosto com a luz dos palhaços,
toco a velha concertina desafinada
enquanto me perco em busca de um sim.
O riso, o riso, o riso…
Só o riso me pode defender do frio dos aços.
Repara como os lábios fechados no horizonte de nada
convocam as crianças tristes que encerro em mim.
O riso, o riso, o riso…